Quando você já tem alguma experiência gastronômica, ou ao menos alguém que faça para você, é hora de se atrever a oferecer um almoço ou jantar.
Dependendo do tamanho da sua mesa e do número de convidados, uma das opções é servir à americana, ou seja, os pratos e talheres sobre a mesa e os convidados se servem e sentam-se em outros lugares. É a maneira mais simples, mas menos cômoda. Nesse caso, é melhor se preocupar com o menu e não oferecer nada que seja complicado comer. Por exemplo, cortar um medalhão no colo ou tirar o scargot da conchinha não é nada trivial. Portanto, antes de pensar em um prato que pareça chic, imagine se é prático.
Uma refeição na mesa tem seu charme e regras. A vida moderna e a intimidade com os amigos ou família permitem que você quebre algumas ou muitas delas, mas é bem diferente você quebrar um protocolo por ignorância que por opção.
Quer fazer algo bem informal entre amigos? Ótimo! Nenhum problema, mas às vezes você quer se exibir um pouquinho, né? Fazer alguma coisa mais elegante ou elaborada, homenagear alguém, enfim, acho que um prazer não elimina o outro.
Um ponto importante, sempre que você convida uma pessoa para sua casa é para que ela se sinta bem. O objetivo de fazer uma refeição mais especial é de homenagear seus convidados, se você acredita que é alguém que pode se sentir menosprezado ou intimidado com a formalidade, não faça. A idéia é que seu convidado saia se sentindo um rei, e não constrangido porque não sabe que garfo usar primeiro. Pelo outro lado, você foi convidado e não sabe bem por onde começar, se for amigo mais íntimo, pergunte com bom humor, brinque; se é uma pessoa mais tímida, faz cara de paisagem e observe o que os anfitriões fazem, pronto! Às vezes a gente esquece, ninguém nasce sabendo.
Mas os anfitriões precisam saber.
Em um jantar formal, até a ordem dos convidados na mesa obedece a um protocolo que considera a idade, sexo, nível de instrução e importância das pessoas. Mas vamos simplificar nossa vida? Essa parte a gente deixa de lado um pouquinho e vamos considerar que todos nossos convidados tem igual importância, o que francamente, para mim é verdade. Muito bem, de uma maneira ou de outra, é sempre a anfitriã quem senta primeiro à mesa e quem define a hora de levantar.
Portanto, anfitriã, sente-se e encaminhe os convidados aos seus locais. As pessoas gostam que alguém defina onde elas devam se acomodar, elas não querem tomar essa decisão.
Agora, por exemplo, muitas vezes sou eu quem servirá o jantar e preciso me locomover. Nesse caso, deixo claro qual é o meu lugar, normalmente pela facilidade de locomoção até a cozinha, e Luiz se encarrega de acomodar os convidados. Isso é outra coisa importante, quando se trata de um casal de anfitriões é bem mais fácil, porque a gente divide responsabilidades.
Então tá, mas esse é o durante. Antes, você precisou arrumar a mesa, certo? Muitas vezes a gente está careca de saber o que vai onde, mas na hora “h” dá um branco e sempre aparece aquele detalhe que te deixa na dúvida, do tipo, tem um lado para virar a faca? Pois vamos lá!
Talheres:
A ordem dos talheres segue a mesma ordem em que os pratos são servidos, de fora para dentro. Por exemplo, para a entrada você utilizará os talheres mais afastados do prato; e para o prato principal, os mais próximos. Do lado direito estarão as facas e colheres; do lado esquerdo, os garfos; e acima do prato os talheres de sobremesa, na posição em que são usados, a colher e a faca de sobremesa você usa com a mão direita e o garfo com a esquerda, a colher é mais acima, o garfo no meio e a faca abaixo, mais próxima ao prato. As lâminas de todas as facas são voltadas para dentro do prato.
Copos:
Os copos são arrumados na diagonal à direita acima do prato, com a possibilidade de serem alinhados ou, se forem mais de três, agrupados.
Para os copos alinhados, a ordem seguida é por tamanho, de maior ao menor, o maior à esquerda e o menor à direita. A taça menor estará à altura do talher que estiver mais à direita. Essas serão as taças de água e vinhos. A primeira e maior de todas, à esquerda, é utilizada para água, a seguinte taça é para vinho branco, e a terceira para vinho tinto. De maneira geral, a de vinho branco é a mais alta, mas há uma exceção, quando se utiliza copos específicos para cada tipo de vinho, nesse caso é provável que a taça de vinho tinto seja maior. Ainda que, ultimamente, tenho observado que essa regra tem sido colocada um pouco de lado, deixando-se sempre a taça maior para o vinho tinto, favorecendo assim, a apreciação do seu bouquet.
No caso de agrupá-los, na realidade serão duas filas juntas. A primeira fila, mais próxima ao prato, é absolutamente igual ao explicado acima, do maior para o menor, da esquerda para direita. Na segunda fila, centralizada com a primeira, seguirão as taças de champagne e licor e também seguem a ordem de maior para menor, da esquerda para direita.
Guardanapos:
De pano, por favor! Depois de todo esse trabalho, não vamos estragar por um detalhe. Todo mundo tem máquina de lavar, né não? Fica muito mais elegante. É possível até deixar um guardanapo de papel também para as mocinhas que podem ter ido com um batom mais vermelho e se sintam constrangidas em usar seu guardanapo lindo de linho bordado no Ceará, se for muito amiga, tudo bem. Mas essa foi uma coisa que já aprendi, se você recebe gente em casa, não pode ter pena de nada que seja utilizado. Se está com medo que quebre ou suje, não use! Por outro lado, qual é a graça de ter qualquer coisa que não se possa disfrutar? Use guardanapos brancos e depois põe tudo de molho na água sanitária, vai ficar limpinho, pode acreditar.
Há maneiras diferentes de dobrá-los e aqui seguem alguns exemploshttp://buracodafechadura.com/2008/07/03/dobrar-guardanapos/. Mas por hoje, o importante é que estejam limpos, dobrados e colocados sobre os pratos ou suplats. Também existe a possibilidade de estarem dentro de uma das taças.
Para utilizá-los, devem ser dobrados ao meio, colocados no colo, do joelho para cima, com a parte que abre para dentro, ou seja, abertura virada para sua barriga. Assim você pode limpar seus dedos sem manchar sua roupa.
Aproveito para dizer que, ao terminar a refeição, o guardanapo não deve ser dobrado outra vez, mas simplesmente deixado sobre a mesa.
Entretanto, há uma exceção, quando você está hospedado na casa de alguém que utiliza guardanapos de pano, quando terminar de comer você dobra o guardanapo bonitinho e o deixa na frente do seu lugar. É uma maneira de demonstrar boa vontade e dizer para anfitriã que você é de casa, quer poupar o trabalho dela e ela não precisa se preocupar em trocar os guardanapos de pano em todas as refeições.
Complementos:
Pode ser colocado um pequeno prato para o pão, à esquerda do prato da refeição. Sobre esse pratinho, se coloca uma faca de sobremesa, em diagonal. O prato pode estar um pouco acima da borda da mesa, para facilitar a ulilização dos garfos. Esse pão é partido com a mão, a faca é utilizada para untá-lo. Se não for servido manteiga ou algo mais para untar o pão, a faca é desnecessária.
Acredito que uma jarra de água é sempre importante, a sede se mata com água, não com vinho.
Sal e pimenta é um dilema. Para os franceses é quase uma ofensa, é o mesmo que dizer que a comida não está bem temperada. Pessoalmente, não sou tão radical e acho que o gosto das pessoas é variável, portanto, não me ofende nem um pouco se alguém quer colocar um pouco mais de sal ou pimenta em sua comida. Prefiro os recipientes que moem na hora, tanto o sal como a pimenta.
Paliteiro? Preciso responder? Tenha dó, né? Vai no espelho e se olha palitando os dentes que coisinha mais linda! Enfim, não mesmo. Mas sempre deixo um fio dental visível no banheiro.
Um arranjo de flores é bonito, mas perigoso. Primeiro porque o aroma das flores pode influenciar no paladar, portanto, é necessário eleger o tipo de flor com bastante cautela. Outro problema é seu tamanho, além de ocupar um espaço importante, não pode estar na altura dos olhos, ou seus convidados estarão praticamente se desviando de um poste no meio da mesa para conversar.
Velas são muito charmosas, mas também não podem ser aromáticas e devem ser posicionadas de maneira que não atrapalhe a visão, não queime as mãos dos convidados, nem esquente os vinhos.
Hoje em dia, é difícil as pessoas terem espaço para uma mesa auxiliar, mas se for o caso, pode ser usada uma mesa de apoio ou aparador, onde fiquem os talheres e pratos de reposição, os talheres de servir, as garrafas de vinho, gelo, pão etc.
Toalha de mesa, usar ou não:
Sim, há regras, mas acho o seguinte: é bonito mostra, é feio esconde, pronto!
Teoricamente, mesas de vidro, por exemplo, não se forram. Na minha opinião, acho que depende, se você tem uma toalha linda, por que não? Por outro lado, acho mesas sem toalha mais charmosas, mesmo as de madeira, claro, se forem bonitas.
Uma coisa é importante, se não usar toalha de mesa, por favor, use suplat ou jogo americano, prefiro o suplat, fará uma composição melhor em função das taças.
Se utilizar uma toalha, deve estar limpíssima, imaculada, e bem passada. Como tamanho ideal, o fim da toalha deve coincidir com o assento da cadeira.
Nada impede de usar sua criatividade e cruzar passadeiras ou tecidos interessantes pela mesa. Só cuidado para não exagerar, uma mesa bonita aguça as sensações, mas o show pertence à comida.
O que os convidados devem levar?
Primeiro, estamos falando de um jantar mais elegante ou especial, certo? Porque quando já temos intimidade ou frequentamos a casa dos amigos, as regras vão se tornando cada vez mais flexíveis. Uma coisa é chamar um amigo para bater um papo em casa, naturalmente o convidado pergunta, levo alguma coisa? O anfitrião define, e o normal é trazer uma bebida ou aperitivo. Vamos combinar, ninguém pode ficar oferecendo tudo o tempo inteiro, é caro!
Mas no caso desse jantar mais especial, ou de ser a primeira vez que você vai à casa desse amigo, o que levar? Flores ou um presente para casa. Vinho ou outra bebida poderia considerar que você acredita que seu amigo não tem condições de te oferecer uma boa bebida. É ridículo, eu sei, mas é a regra, você quebra o protocolo se quiser e se souber que seu amigo não vai pensar essa bobagem.
Flores, que cor? Outra vez, é um pouco de frescura, mas regra é regra, novamente, você cumpre se quiser. Essa regra se aplica principalmente às rosas, o branco é sempre correto, amarelo é infidelidade, rosa é promessa de amor, vermelho é amor ardente. Não se oferecem rosas vermelhas a uma mulher jovem, nem amarelas a uma casada. É um arranjo colorido, e no meio tinha uma florzinha amarela de nada, ai cassilda, e agora? Relaxa, a dona da casa vai gostar. Mas não faça questão que ela arrume o arranjo naquele minuto, ela estará ocupada.
Bombons ou guloseimas podem ser simpáticos, mas você precisa ter certeza, por exemplo, que a dona da casa não está de dieta ou se não há ninguém diabético.
Vou repetir, são seus amigos? Vocês já se conhecem bem? Já foi um monte de vezes na casa deles? Pode levar vinho, bombons, o que quiser, ou nada. O que acabei de explicar é para a primeira vez, em uma ocasião especial ou mais formal.
A hora de levantar:
É sempre a anfitriã quem define o momento apropriado e se levanta primeiro. Os convidados acompanham.
Não há nenhum problema em passar todo o jantar e sobremesa na mesa, muitas vezes é o local mais confortável.
Entretanto, caso seja uma refeição mais longa, com vários pratos e tal, chega uma hora em que as pessoas se cansam de estarem sentadas no mesmo lugar. Às vezes alguém quer usar o toilet, outro quer dar uma fumadinha, enfim, os anfitriões precisam estar atentos a isso. Acho que após finalizar o prato principal, é possível ser flexível e continuar a conversa, o café, licores, os queijos e a sobremesa, no sofá. O momento exato, irá definir a anfitriã ao considerar a reação dos convidados.
Falando em fumar, vou dar minha opinião: na mesa NUNCA! Acho um desrespeito com a comida e com as pessoas. Se você não pode esperar uma refeição inteira para um segundo trago, definitivamente, você tem problemas! A única exceção é se absolutamente todos da mesa forem fumantes e não houver crianças por perto. Caso contrário, por favor, sem aquela perguntinha canalha do “vocês se incomodam?”. Sim, incomoda e fede, e de longe – que nunca é tão longe assim – fede também! Por outro lado, cortesia se responde com cortesia, seu amigo fumante se segurou o jantar inteiro, né? Na hora do café, ofereça a janela ou a varanda e dá uma folguinha.
Como agradecer:
O agradecimento é feito aos anfitriões no momento da despedida, isso é o suficiente. Mas esse agradecimento pode ser estendido ao dia seguinte, por telefone para amigos íntimos, e por correio quando se tratar de relações sociais. Um detalhe um pouco óbvio, se telefonar, não ligue cedo, só após às 14:00hs, os donos da casa foram dormir tarde, lembra? No caso do convidado que chegou de mãos vazias, pode enviar flores acompanhadas de um cartão.
Hoje em dia, com a prática da internet, é mais simples enviar um e-mail agradecendo, não vejo nada demais. É simpático e a pessoa lê na hora que puder.
Papel do convidado:
Quando você aceita um convite, em tese, está também aceitando que retribuirá esse mesmo convite. Por exemplo, se você aceitou comparecer a um jantar, deve em outra ocasião convidar seus amigos para sua casa ou a um restaurante. Não é necessário que você retribua no mesmo ou melhor padrão, se for possível ótimo, mas cada um deve respeitar suas próprias condições.
Uma curiosidade, homens solteiros convidados por um casal deveriam retribuir o convite apenas ao marido. Pois não ficaria bem uma mulher casada aceitar o convite de um homem solteiro, a não ser que a idade dos dois não deixasse a menor sombra de dúvida sobre essa relação. É mole?
Muito bem, lá vou eu mais uma vez, isso é o que diz a etiqueta, ainda que não dê a menor bola para ela. Chamo em casa as pessoas que tenho vontade de encontrar. Se me retribuem o convite, vou de bom grado, mas nunca esperei por isso. Meu prazer é ter amigos em casa e é a razão pela qual convido. E vamos combinar, na nossa sociedade, essa regra de só convidar o marido seria estranhíssima e, provavelmente, a esposa não convidada ficaria bem aborrecida.
Finalizando:
Toda essa arrumação pode variar de acordo com o menu oferecido, número de pratos, tipos de vinhos etc. Essas são as ferramentas e você usa como precisar ou quiser.
É importante lembrar que boa parte desses procedimentos foram gerados em outra geração, cultura, status social etc. Utilizar o mesmo protocolo da corte francesa no século XVII em um jantar com amigos, pode parecer um pouco pernóstico. Entretanto, muitas regras se mantiveram ao longo dos anos por se provarem úteis e tornarem o processo mais definido. No mínimo, há um ritual interessante e gostoso. Outras regras são preconceituosas mesmo. Enfim, é fundamental ter bom senso.
Agora que você conhece ou lembrou de todas essas etapas, se é que posso dar algum conselho é que confie um pouco em sua intuição e criatividade. Alguns exemplos, não tem todos os pratos ou copos do mesmo jogo? Usa de jogos diferentes, aproveita e coloca guardanapos também de várias cores, faz de maneira divertida. Quer flores na mesa, mas não tem um vaso adequado? Coloca só botões em copos individuais, espalha as pétalas pela mesa. Atrevo-me a dizer que quase tudo que você faz com carinho e pensando em seus convidados, pode sim. Tome decisões e, se precisar, erre com classe e bom humor. É claro que seus convidados vão gostar e isso é o mais importante.
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